A inteligência artificial (IA) no Japão vem ganhando espaço de forma consistente e estruturada. Conhecido por sua tradição tecnológica e pela busca incessante por eficiência, o Japão se posiciona como um dos países mais preparados para adotar e adaptar a IA às necessidades sociais, econômicas e culturais.
Com uma população envelhecida, escassez de mão de obra e alto índice de urbanização, a nação nipônica passou a integrar soluções automatizadas ao seu cotidiano, do transporte à saúde, da indústria à educação.
Este artigo analisa como o Japão tem estruturado o uso da IA, abordando seus modelos de desenvolvimento, a integração à cultura local e a regulação aplicada, com destaque para implicações em setores como o jurídico.
Modelos e parcerias que moldam a IA no Japão
O ecossistema de IA no Japão é construído sobre um tripé formado por governo, academia e setor privado. Iniciativas como o projeto GENIAC do Ministério da Economia, Comércio e Indústria (METI) são exemplo de esforços conjuntos para acelerar a adoção de IA generativa com foco em crescimento econômico e transformação social.
O conceito de “Sociedade 5.0” é a base filosófica dessa abordagem. Ele propõe a integração entre o mundo físico e o ciberespaço, criando um sistema socioeconômico digital e inteligente. Isso envolve o uso intensivo de IA, IoT e Big Data, promovendo uma sociedade mais inclusiva e resiliente. O setor privado tem papel fundamental nesse processo, com grandes empresas desenvolvendo soluções que respeitam o rigor técnico e ético exigido pela sociedade japonesa.
Os “robôs sociais”, por exemplo, têm sido utilizados em programas de cuidado com idosos, com aplicações também no ensino infantil. Esses dispositivos operam com base em interação emocional e dependem do contato humano, o que reforça o conceito local de “robôs fracos”. Essa visão destoa do modelo ocidental de automação total e reforça o respeito às relações sociais.
Além disso, o Japão investe em programas de capacitação e em políticas públicas voltadas à formação de talentos em IA. Universidades, institutos de pesquisa e empresas mantêm centros conjuntos de desenvolvimento, como forma de garantir a atualização constante das tecnologias. Essa sinergia entre os atores garante que a inovação ocorra com consistência e foco em aplicações práticas, alinhadas às necessidades reais da sociedade japonesa.
Valores culturais e éticos moldam a regulação da IA no Japão
O Japão não conta, até o momento, com uma legislação geral e vinculativa sobre IA. Em vez disso, adota a chamada “soft law”, composta por diretrizes e documentos orientativos, como o “Princípios Sociais da IA Centrada no Ser Humano”. Lá estão definidos valores como dignidade humana, inclusão, diversidade e sustentabilidade. Essas diretrizes têm sido base para as decisões de empresas, órgãos públicos e universidades.
A abordagem japonesa é distinta ao optar por regulações setoriais e colaborativas. Isso significa que aplicações de IA em transporte, saúde, educação ou área jurídica têm regras próprias, adaptadas às peculiaridades de cada setor. O setor de transportes, por exemplo, já conta com autorização para veículos de nível 4 de automação, sem necessidade de intervenção humana.
O soft law japonês está alinhado com as diretrizes da OCDE, que sugerem sete princípios: centralidade humana, educação em IA, proteção de dados, segurança, concorrência justa, responsabilidade e inovação. Tais princípios foram reiterados na Cúpula de Segurança da IA em 2023, quando 28 países, incluindo Japão e Brasil, assinaram a Declaração de Bletchley.
A regulação da IA no Japão também reflete seu compromisso com a adaptação cultural. Os documentos regulatórios são pensados não apenas do ponto de vista técnico, mas também levando em conta a percepção social.
Essa característica torna o modelo japonês mais aceitável internamente e potencialmente replicável em outras culturas que valorizam o equilíbrio entre tradição e modernidade. Esse cuidado evita tanto o autoritarismo quanto o abandono da responsabilidade, permitindo que a inovação caminhe com segurança.
IA e setor jurídico no contexto japonês
A aplicação de IA no setor jurídico no Japão está em crescimento, especialmente no apoio à análise documental, redação de contratos e gestão de prazos legais. Com base em práticas de alta precisão, a IA japonesa se mostra especialmente eficaz em automatizar tarefas repetitivas, sem comprometer a segurança jurídica. Essa abordagem vem sendo adotada por escritórios que buscam maior eficiência sem abrir mão do rigor normativo.
A assinatura eletrônica também vem sendo beneficiada pelo avanço da IA. Soluções baseadas em identificação biométrica, reconhecimento facial e autenticação por IA ajudam a garantir a identidade do signatário, promovendo mais segurança e agilidade. Quando se fala em assinatura eletrônica, o Japão vem reforçando seu compromisso com a usabilidade, um ponto também valorizado pela ZapSign no Brasil.
Empresas brasileiras interessadas em soluções mais acessíveis e funcionais podem se inspirar nesse modelo, uma vez que a prática japonesa privilegia plataformas intuitivas e eficientes, compatíveis com a realidade de equipes com diferentes níveis de letramento digital. Isso reforça a importância de reduzir custos sem abrir mão da segurança e da confiabilidade.
A IA também tem sido utilizada para promover justiça preditiva, cruzando jurisprudências e auxiliando na análise de riscos legais. Embora ainda em fase experimental em muitos casos, essas ferramentas já mostram resultados positivos em ganhos de produtividade e redução de falhas humanas em análises de grande volume.
Cultura japonesa como fundamento do uso da IA
No Japão, a IA não é percebida como uma simples ferramenta, mas como uma extensão da relação entre seres humanos e o ambiente. Essa percepção está enraizada em tradições como o zen-budismo e o animismo, que inspiram respeito por todas as formas de existência. Isso explica a aceitação mais natural de robôs e tecnologias no cotidiano, inclusive em contextos como festas e eventos culturais.
Diferente de outras culturas, onde a IA é vista com desconfiança, no Japão ela é acolhida como ferramenta de fortalecimento dos vínculos sociais. É o que se observa na adoção de assistentes virtuais em casas de idosos, e no uso de IA em escolas para auxiliar no aprendizado, principalmente de programação e no ensino adaptativo.
A construção social em torno da IA no Japão também passa por símbolos culturais que se tornaram referência mundial. A cultura pop local ajudou a naturalizar o contato com máquinas dotadas de personalidade, como os robôs de tokusatsu, favorecendo sua aceitação.
Tudo isso mostra que, no Japão, a IA é construída em diálogo constante com a cultura local, e não em oposição a ela.
Impactos e oportunidades para o Brasil
A estratégia japonesa pode servir como referência para países como o Brasil, que buscam expandir a adoção da IA sem comprometer a ética ou a segurança. No setor empresarial, por exemplo, as diretrizes japonesas podem inspirar empresas brasileiras que desejam integrar IA aos seus sistemas de atendimento, controle documental e gestão de contratos.
Empresas brasileiras também podem replicar práticas como capacitação de equipes para uso seguro de IA, definição de protocolos internos baseados em risco, e construção de parcerias entre áreas técnicas e jurídicas. Dessa forma, é possível garantir não só inovação, mas também governança adequada.
Portanto, a experiência com IA no Japão mostra que é possível combinar avanço tecnológico com respeito às tradições, valores culturais e éticos. Em vez de legislação rígida, o país aposta em diretrizes adaptáveis, focadas na segurança e no bem-estar coletivo. Isso gera uma base sólida para que tecnologias como a IA sejam aplicadas em setores essenciais – inclusive no jurídico e na assinatura eletrônica.
Empresas brasileiras interessadas em seguir caminhos semelhantes podem se inspirar nesse modelo para adotar a IA com mais confiança, buscando soluções intuitivas, acessíveis e seguras. Assim como a IA no Japão está transformando a forma como os processos operam sem perder de vista o fator humano, é possível para o Brasil trilhar uma rota semelhante.
Aliás, quer entender como os contratos funcionam no contexto japonês? Então, leia este artigo sobre os tipos de contrato de trabalho no Japão.